Arquivo da tag: arbitragem

Emídio Marques de Mesquita, instrutor de arbitragem da Fifa

Por Artur Capuani

Árbitro de futebol de 1968 até 1993, desde a Liga Municipal de Futebol de Jacareí, passando pela Liga Joseense de Futebol de São José dos Campos, federações paulista e goiana de futebol, até chegar à CBF, Conmebol e Fifa, Emídio é hoje um dos pilares da International Board, entidade que regulamenta as regras do futebol.

Anualmente, nas reuniões promovidas pelo órgão, Emídio se faz presente e dá o olhar sul-americano sobre as alterações das regras do jogo.

Confira agora o que disse o ex-árbitro sobre assuntos polêmicos como profissionalização da arbitragem, inclusão da tecnologia no futebol e os erros no Mundial da África do Sul.

Artur Capuani – Como se dá a relação entre a Fifa e a International Board, desde a sua criação?

Emídio Marques de Mesquita – A International Board foi criada antes da Fifa, há 124 anos, em uma taverna com representantes de Escócia, Inglaterra, Suécia e Países de Gales. Nesta reunião foi adotada a regra de Cambridge como um padrão internacional. Mais tarde, em 1913, nove anos após sua criação, a Fifa acabou entrando como quinto elemento deste sistema, que realizava apenas uma reunião anual, diferente das duas realizadas atualmente.

Nas reuniões ministradas em março, chamadas de Assembléias Gerais, são convocados quatro delegados de cada membro. Ou seja, 16 britânicos e mais quatro da Fifa.

Na verdade, a International Board não está registrada em nenhum cartório no mundo. Ela é apenas um estatuto.

Artur Capuani – Qual a sua opinião sobre a pressão pela introdução de inovações tecnológicas que venham a minimizar os erros de arbitragem?

Emídio Marques de Mesquita – Porque não se chegou uma conclusão até hoje, por exemplo, na introdução de um sistema que detecte a entrada da bola no gol? Por uma razão simples. No tênis a bola atinge uma superfície plana; no futebol, é vertical. Tentaram com o chip na bola, mas não foi suficiente. No Campeonato Mundial Sub-17, no Peru, houve uma tentativa frustrante deste sistema.

Artur Capuani- Mas por que se rejeita a utilização de um sistema de vídeo que venha a auxiliar o juiz?

Emídio Marques de Mesquita – Sobre a utilização de replays pela arbitragem, a International Board não aceita, pois não se pode utilizar este mecanismo em todos os jogos do mundo. Portanto, é uma proposta natimorta.

Artur Capuani – De que maneira o senhor avalia a participação dos árbitros durante a Copa do Mundo de 2010?

Emídio Marques de Mesquita – Tudo o que aconteceu serve como parâmetro de avaliação. Mas cabe uma pergunta mais genérica, a todos: por que os árbitros erram?

Dividimos a arbitragem em quatro pedestais: a parte técnica, a parte física, a parte administrativa e a parte psicológica. O maior problema que observamos durante o Mundial na África do Sul em termos de arbitragem foi na parte psicológica, na área do sentimento.

Fato novo é aquilo que aconteceu pela primeira vez e você não sabe como resolver. O grande problema dessa Copa: a bola entrou [jogo entre Inglaterra e Alemanha]. Todos estavam treinados para aquele momento, mas os dois responsáveis pelo lance não viram. O mesmo vale para o jogo entre Argentina e México.

Artur Capuani – Mesmo com toda a importância que tem futebol na atualidade, a arbitragem ainda não pode ser considerada como profissão, já que são necessárias atividades paralelas para garantir o sustento de um árbitro. Por que este panorama persiste?

Emídio Marques de Mesquita – Em 15 anos não se encontrou uma solução, por vários aspectos.

A legislação trabalhista na Argentina é diferente da encontrada no Brasil, que também é diferente da inglesa. E surge uma pergunta: quem é o patrão do árbitro?

A Fifa diz que apenas usa os árbitros das entidades associadas a ela. A CBF, por exemplo, diz que tem a relação anual dos árbitros, e usa os representantes das federações estaduais. Estas dizem que formam os árbitros, sendo intermediárias de um campeonato que ela organiza, com o administrador de um condomínio, que são os clubes.

Onde está o árbitro? O lado do qual ele veio não o aceita. Onde ele está, também não é aceito. Até agora não se encontrou uma resposta.

No momento em que o árbitro necessita receber pelo seu serviço, ele passa a ser um mediador e se importar apenas com a próxima escala.

Para ter independência, eu tinha de ter o meu ganha-pão, proveniente da engenharia e do corpo docente. Do contrário, seria um mero fabricador de resultados. Nunca me preocupei em agradar ninguém. E esse tipo de atitude me fez chegar aonde eu cheguei, sem hipocrisia, com o coração.