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O fator Marina no segundo turno

por Thiago Cara

Marina Silva foi a candidata que mais cresceu na reta final das eleições presidenciais e, para muitos analistas, foi a grande responsável pelo segundo turno, logo a possibilidade de Marina ser o fiel da balança para determinar o novo presidente do país é praticamente unânime. Com isso, pouco após a divulgação dos resultados, PT e PSDB iniciaram a busca pelo apoio da candidata verde, de olho em seu eleitorado.

Ainda no domingo, surgiu o boato de que a o vice da chapa tucana, Índio da Costa, poderia ser substituído, eventualmente, por um candidato do PV. O primeiro nome cogitado foi o de Fernando Gabeira, derrotado nas eleições ao governo do estado do Rio de Janeiro.

Segundo a legislação eleitoral, a troca de vice é autorizada, em alguns casos, no segundo turno. Entretanto, Ricardo Penteado, advogado da campanha de Serra, desaconselhou o partido da decisão, alertando para uma possível impugnação da candidatura. Segundo ele, a Constituição é dúbia e pode dar a interpretação de que o vice também é titular de chapa, e não somente o candidato em si.

 A idéia ainda esbarraria em outro ponto da Lei Eleitoral, que não permite a indicação de um nome cujo partido não compunha a coligação original do candidato. 

Já o PT, tem ao seu favor o fato de Marina ter vivido grande período de sua trajetória política dentro do partido. Até poucos meses Marina era ministra do governo Lula, e ainda possui grandes amigos na cúpula petista.

Porém, Marina parece não se importar em definir seu apoio em meio à discussões de conveniência. Em entrevista à Radio Jovem Pan, a candidata defendeu que sua posição será definida por questões programáticas, podendo inclusive não seguir a posição de seu partido.

A expectativa é que Marina defina seu apoio em até 15 dias, à menos de 2 semanas do pleito. O que pode diminuir, e muito, a preponderância de sua posição na candidatura petista ou tucana.

Debate mostra principais diferenças entre PT e PSDB

Divergências quanto ao tamanho do Estado, reformas e política externa. 

Por Roni Meireles

Onde está a diferença? 

            Os presidentes do PT, José Eduardo Dutra, e do PSDB, Sérgio Guerra, participaram, no dia 10 de maio, de debate promovido pelo Estado de S.Paulo na zona oeste da capital Paulista. Foram discutidas as diferenças ideológicas e programáticas dos partidos, que protagonizam a (pré) disputa eleitoral para o palácio do planalto. Integraram a mesa, além dos presidentes dos partidos, as repórteres Julia Duailibi e Malu Delgado. O debate foi mediado pelo jornalista Roberto Godoy. 

            Embora os discursos e planos dos dois partidos que polarizam a cena política nacional pareçam convergir, nesse debate ficaram claras muitas divergências entre eles, principalmente em relação ao programa de governo. Ficou claro que há discordância entre PT e PSDB em temas como reformas política, previdenciária e tributária. Pelo teor das palavras do senador Sérgio Guerra, a política externa também seria conduzida de maneira diferente pela atual oposição. 

            No anfiteatro do Estadão, sentados lado a lado no palco e assistidos por uma platéia formada principalmente por jornalistas, Sérgio Guerra e José Eduardo Dutra foram sabatinados pelas repórteres que integraram a mesa e pelos expectadores que assistiram o debate no local e pela internet. 

Sérgio Guerra - Presidente do PSDB

            Visivelmente agitado, porém contido, Sérgio Guerra iniciou com a palavra.Fez uma breve síntese da atuação do partido nas últimas duas décadas, lembrando o apoio do PSDB à nova República, ao Impeachmant de Collor em 1992, e ao plano Real em 94, que para ele foi o lançamento da primeira grande plataforma nacional do partido. Reconheceu méritos do atual governo, com a ressalva de que “a construção de hoje é produto de uma evolução de muito tempo e de muitas pessoas, de muitos brasileiros”. Disse que o caminho para o Brasil foi fixado com a definição da política macroeconômica a partir do governo FHC, sendo que o principal mérito do governo Lula foi “ter desenvolvido a política econômica que nós (PSDB) fixamos, os programas sociais que nós inventamos e ter mantido a democracia que nós estimulamos”.

José Eduardo Dutra - Presidente do PT

            Mais calmo e gesticulando menos, José Eduardo Dutra, em seguida, usou a palavra. Relembrou a trajetória do PT desde a sua criação até os dias atuais, salientando a legitimação gradual da legenda perante a sociedade por meio das consecutivas gestões municipais e estaduais que culminaram na eleição do presidente Lula em 2002. Enfatizou que durante toda sua trajetória o partido foi acompanhado com profunda desconfiança pela oposição, que chegou a duvidar de sua capacidade de governar o Brasil. “Naquela época dizia-se que Lula não poderia ser presidente da República porque nunca havia administrado sequer um carrinho de pipoca… hoje chegamos ao oitavo ano de mandato do presidente Lula e ele é o presidente mais aprovado na história do Brasil”. Enfatizou que a candidatura Dilma Rousseff representa a continuidade do governo Lula.

            Questionado sobre a possibilidade de participação do PT no governo PSDB, na hipótese de vitória do candidato José Serra, José Guerra aquiesceu com o aceno do pré-candidato tucano, dado em uma declaração dele à imprensa, segundo a qual poderia convidar pessoas do PT para o seu governo, caso se torne presidente.  Guerra disse que não vê problema na nomeação de políticos do PT para cargos do governo, desde que sejam pessoas competentes e preparadas. 

            Ele afirmou que o PSDB trabalha com a idéia de colaboração, baseada no interesse público, de forma democrática. Citou o exemplo da votação pela extinção da CPMF, em dezembro de 2007, como um dos momentos em que a oposição tentou um acordo com o governo, visando a manter a contribuição, o que não foi possível “devido à falta de sustentabilidade”, à época. Relembrou que o PT, em 2002, buscou nos quadros do PSDB o ministro do BC (Henrique Meirelles), que posteriormente se filiou ao PMDB. Argumentou que a convergência só não é possível para pessoas interessadas no aparelhamento do Estado. Aproveitou para criticar duramente o PNDH3 dizendo que o plano “é contra a liberdade de imprensa, contra a cultura do país, é autoritário, é contra a justiça, é uma contrafação”. Arrancou aplausos da platéia de jornalistas. 

            Na réplica, Dutra lembrou que o acordo em torno da aprovação da continuidade da CPMF, citado por Sérgio Guerra, deveu-se ao interesse de todos os governadores na época de mantê-la, inclusive os então governadores de São Paulo, José Serra, e de MG, Aécio Neves, sendo que a não aprovação da matéria deu-se pela atuação do então líder do PSDB, Arthur Virgílio, que, ameaçando renunciar, se opôs ao empenho do próprio partido de votar a favor da continuidade da contribuição, com o intuito de inviabilizar recursos vultosos dela decorrentes e prejudicar o governo Lula. Rejeitou a possibilidade de tendência ao aparelhamento do Estado no partido dos trabalhadores. Citou o exemplo de que quando assumiu a presidência da Petrobras, em 2003, o cargo de conselheiro de administração de Energia da empresa na Argentina era ocupado pelo ex-deputado Euclides Escaupo, do PSDB, que foi substituído por João Saiad, atual secretário de cultura de São Paulo, também tucano, nome que ele mesmo teria apresentado. 

            A posição quanto ao tamanho e a atuação do Estado configura-se como uma das principais divergências entre os partidos. Além desta discussão, na qual Sérgio Guerra insinuou que o PT pratica o aparelhamento da máquina, surgiu também uma polêmica sobre o fisiologismo, que o tucano criticou no atual governo. Entretanto, a problemática que gira em torno da força e da intervenção do Estado foi tratada apenas indiretamente. 

            Sérgio Guerra disse que o PSDB jamais radicalizou na oposição ao atual governo e reconheceu mesmo que o PT sempre teve bom convívio com seu partido no Congresso, mas cutucou a situação e o presidente Lula por usar a ‘tropa de choque’ – sua base aliada. Para ele isso teria provocado “o aparelhamento do Estado, a desmoralização do Congresso, a redução do papel do Congresso, a república das medidas provisórias, a troca de votos por estrutura, a cooptação e o mensalão”. 

            Dutra rebateu as acusações afirmando que a base do atual governo é composta pelos mesmos partidos que formavam a base do governo anterior e que vê com suspeita o fato de o senador José Guerra alegar que antes de 2002 a relação do governo federal com os partidos era pautada por princípios republicanos e que a partir de então passou a ser pautada pelo fisiologismo. 

Reformas X Emendas 

            Em meio à discussão sobre o contraditório apoio do PSDB à recente aprovação no senado do fim do fator previdenciário – que aumenta o gasto público – ao mesmo tempo em que a oposição critica o aumento da dívida pública no atual governo, Sérgio Guerra disse que a situação fiscal deficitária do Estado não vai de encontro à aprovação do aumento da aposentadoria, que ainda está no Senado e pode ser debatida com as lideranças do governo para que se chegue a um consenso do quanto pode ser destinado a ela, sem prejuízo ao erário. 

            Essa discussão colocou em pauta a reforma da Previdência e outras. 

           José Eduardo Dutra disse que não vê necessidade de um ajuste fiscal. Para ele a reforma da Previdência requer um longo tempo para ser aprovada no Congresso, pois é um tema de difícil debate em virtude da “ameaça que é colocada sobre aqueles que estão em vias de se aposentar, o que resulta numa corrida às aposentadorias e agrava o problema”, sendo mais fácil, para obter efeitos num curto prazo, fazer ajustes ou correções pontuais na legislação. Disse que o mesmo é válido para outros temas como, por exemplo, a reforma tributária. Concluiu que “não está no programa do PT a proposição de uma reforma previdenciária”, mas sim “ajustes necessários, de acordo com os problemas que são detectados”. 

            A esse respeito, Sérgio Guerra, contrariamente, posicionou-se a favor das reformas previdenciária, tributária e política, apesar delas implicarem em contrariedades para os setores que são afetados. Opôs-se às medidas provisórias e a outras medidas que chamou de ‘tapa-buracos’ 

Ideologia 

            Mencionando uma declaração do presidente lula, na qual ele disse ter chegado à conclusão de que é preciso “primeiro construir o capitalismo, para depois construir o socialismo”, Julia Duailibi perguntou para o presidente do PT se o partido pretende implantar o socialismo no Brasil. Com um riso que pareceu ser de troça, José Eduardo Dutra disse que “o PT nunca se apresentou como um partido marxista”. Flexibilizou o conceito de socialismo para dizer que o partido busca a construção de uma sociedade, tenha ela o nome de socialista ou qualquer outro, mais justa e solidária, em que se diminua a desigualdade e se contemple as questões chamadas de contradições secundárias, como as de gênero, raça e desenvolvimento sustentável. Disse que a forma de buscar isso é o aprofundamento da democracia através da introdução de mecanismos de participação popular direta efetivos, sem que isso, contudo, signifique um “chavismo”. 

Política externa 

            José Eduardo Dutra defendeu a tradição de não ingerência nas questões internas de outros países, para justificar a não intervenção do Brasil em Cuba e as relações com o Irã. Comparou as políticas de comercio exterior praticadas pelo atual e o antigo governo, lembrando que havia pressão para adesão do Brasil à ALCA, o que não aconteceu. Citou que até 2002 60% das exportações brasileiras tinham como destino a União Européia, EUA e Japão, sendo que a partir da posse do presidente Lula esse quadro mudou e hoje, além das exportações terem aumentado, esses 3 destinos respondem por menos de 40% do total. Afirmou que o governo promoveu a diversificação nas relações comerciais com outros países, passando a exportar mais para regiões como a Ásia e América Latina, fato que, para ele, foi fundamental para a rápida superação da crise de 2008, pois isso diminuiu a dependência do Brasil da UE e EUA, núcleos do capitalismo que foram mais duramente atingidos pela crise. Alegou que essa atitude não significa uma intenção de romper relações comerciais com EUA e países da Europa, mas a intenção de dar continuidade a “uma diversificação e uma melhor distribuição do mercado brasileiro”, aproveitando-se da “importante liderança que tem o Brasil, particularmente na América Latina”. 

            Guerra falou que “há alguns desvios de conduta” na atuação do governo atual na política externa. Criticou o que chamou de descaso com Cuba e Venezuela em relação aos Direitos Humanos.  Aproveitando o assunto, disse que o PT quer cercear a liberdade de Imprensa por meio do PNDH3. Lembrou a intervenção do Brasil em Honduras, que considerou um exagero que feriu a constituição do país caribenho. Entretanto considerou razoável o resultado da política externa no atual governo, alegando, todavia, que não é verdade, como disse José Eduardo Dutra, que o volume de exportações cresceu a partir de 2008, e sim que, pelo contrário, diminuiu. Criticou a relação do atual governo com ditadores como Raul Castro, Hugo Chaves e Mahmoud Ahmadinejad

Chavez e Ahmadinejad

            Na tréplica, Dutra colocou fogo na discussão lembrando que “o governo anterior nunca fez nenhuma declaração a respeito da violação dos Direitos Humanos em Cuba, embora saibamos que já houvesse naquela ocasião” e que “no governo anterior o Fujimori (ditador que governou o Peru de 1990 a 2000) veio ao Brasil (…) e, no entanto era um país (o Peru) com o qual o Brasil tinha excelentes relações (comerciais) e estava correto de ter”. Lembrou que, portanto, no governo anterior também existiam relações como as que Guerra criticou, com ditadores. Disse que o polêmico PNDH3 tem pontos que considera absurdos e que devem ser alterados – como a questão do aborto – mas que o PT jamais se mostrou disposto a cercear a liberdade de Imprensa, em nenhum de seus documentos. Lembrou que o PNDH3 não é uma proposta do governo e sim um documento que reúne propostas advindas de conferências – como a Confecom. “O nosso partido tem uma história de defesa intransigente da liberdade de Imprensa, que continuará no nosso governo” – disse. 

            Esse debate (clique para assistir), muito esclarecedor, explicitou as principais diferenças entre PT e PSDB